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Author
Pedro Ribeiro Simões from Lisboa, Portugal
Object type painting
object_type QS:P31,Q3305213
Description

Centro de Arte Moderna (CAM), Calouste Gulbenkian Foundation, Lisboa, Portugal

Materials : Oil on canvas

THE PAINTING

Uma aguarela no acervo do CAM está seguramente associada a esta tela, e embora não seja certo ter sido um estudo, torna aqui clara a agilidade de Amadeo no métier da pintura a óleo – em pinceladas dextras e fluentes que amplificam as cores e estendem o espaço como se soltas das restrições do óleo.

Os “contrastes simultâneos” entre estas cores vivas têm um claro parentesco em Robert Delaunay, então exilado em Vila do Conde, que os teorizava e reformulava desde que os inventou, curiosamente, numa série de Fenêtres [Janelas] (1912). Em parte, a simultanée formou-se como reacção ao claro-escuro do Cubismo. Mas esta pintura da cor pela cor era sobretudo encorajada por ser um fenómeno especificamente pictural e que correspondia a um estado de sensibilidade poética, o que foi de imediato celebrado por Apollinaire e Blaise Cendrars.

Amadeo não foi o único artista a fugir de Paris com a Guerra. Também Matisse se isolou em Collioure com Juan Gris, em 1914, pintando a sua célebre e sombria Porte-Fenêtre que abria para o preto absoluto do mundo em perigo. O contraste com os primeiros anos do exílio de Amadeo em Manhufe é notável, neste que foi um verdadeiro regresso ad uterum e deu origem a uma pintura plena de energia vital e de cores radiantes, com obras que se impõem na geografia do modernismo como “ex-cêntricas”, mas de maneira alguma insulares.

A série de janelas que Amadeo pintou entre 1915 e 16, entre as quais esta obra, com as suas formas abstractas e cores comunicantes, torna claro porque se escreveu então que sobre elas corria o “vermelho, vermeeeeelho, amaaaaarélo, todos os tons de amarelo; verde intensamente verde, as cores da rapidez, da alegria, concebidas no tempo e não no espaço, as cores do carnaval mais estravagante e estridente”!*

  • Excerto de um texto colado junto aos quadros de Amadeo na sua exposição individual no Porto em 1916. Autor desconhecido. Citado em Amadeo de Souza Cardoso: Diálogo de Vanguardas, CAM/FCG, Assírio & Alvim, Lisboa, p. 483.

AR

Março de 2011


BIOGRAPHY:

Amadeo nasceu na quinta dos seus pais em Manhufe, no concelho de Amarante, a 14 de Novembro de 1887. Cresceu entre nove irmãos, no seio de uma família de abastados proprietários rurais. Passou a sua infância entre a casa de Manhufe e as estâncias de veraneio na praia de Espinho. Aí conheceu Manuel Laranjeira, cuja amizade foi determinante para incentivar a prática do desenho, que Amadeo desenvolveu depois em Lisboa, no âmbito dos estudos preparatórios de Arquitetura na Academia de Belas-Artes de Lisboa. Estávamos em 1905.

A viagem para Paris, em Novembro do ano seguinte, na companhia de Francisco Smith, não tinha data de regresso marcada. Financiado pelos pais, Amadeo instalou-se no Boulevard Montparnasse e tratou de preparar o concurso à École des Beaux Arts. Contudo, o ambiente parisiense reforçou a sua inclinação para o desenho e a caricatura, contribuindo para afastá-lo de vez do campo da Arquitetura. Particularmente influenciado pela ilustração que circulava na imprensa francesa, Amadeo não tardará a dedicar-se ao desenho e à pintura.

Os primeiros anos de estadia em Paris ficaram marcados pelo convívio com outros portugueses emigrados. O estúdio que alugou no 14, Cité Falguière converteu-se num espaço de tertúlias e boémia com a presença assídua de artistas como Manuel Bentes, Eduardo Viana (que o acompanhará em 1907 numa viajem à Bretanha), Emmérico Nunes, Domingos Rebelo e Smith. Este convívio regular não durou muito. O final de 1908 e o início do ano seguinte trazem importantes alterações à vida de Amadeo: conhece Lucia Pecetto (1890-1989), com quem casará em 1914, e começa a frequentar as classes da Academia Viti, do pintor espanhol Anglada-Camarasa (1871-1959). Muda então o seu atelier para a rue des Fleurus num espaço contíguo ao apartamento de Gertrude Stein. Estas alterações terão contribuído para distanciá-lo do circuito dos artistas portugueses. Mas esse afastamento voluntário parece traduzir, antes de mais, um corte de sentido plástico, uma vontade de romper com a “rotina atrasada” que lhes atribui. O nível de exigência e de comprometimento com o trabalho que já então ia produzindo remetem-no para uma esfera sem paralelo na pintura dos portugueses, porque Amadeo mergulha plenamente nas pesquisas do modernismo internacional em desenvolvimento em Paris. É nesse contexto de investigação formal que, em 1910, o veremos entusiasmado com as pinturas dos “primitivos” flamengos (numa estadia de três meses em Bruxelas). É neste período também que o veremos aprofundar a sua amizade com Amedeo Modigliani (1884-1920).

Em 1911, Amadeo muda outra vez de estúdio. Instala-se próximo do Quai d’Orsay, na rue du Colonel Combes. Em Outubro realiza neste espaço uma exposição com Modigliani. Esta não seria, contudo, a primeira exposição da sua obra. Alguns meses antes, Amadeo apresentara um conjunto de seis pinturas no Salon des Indépendants. Volta a expor neste Salão no ano seguinte e em 1914. De igual modo, mostra o seu trabalho no Salon d’Automne entre 1912 e 1914. Entretanto, o seu círculo de amizades e conhecimentos estende-se e internacionaliza-se. Conhece Umberto Boccioni (1882-1916), Gino Severini (1883-1966), e Walter Pach (1883-1958), que mais tarde o convidará a participar no Armory Show. Está também em contacto com Juan Gris (1887-1927), Max Jacob (1876-1944), Sonia e Robert Delaunay, Brancusi (1876-1957), Archipenko (1887-1964), Umberto Brunelleschi (1879-1947) e Diego Rivera (1886-1957), entre outros.

O interesse de Amadeo pelo desenho consolida-se neste período com a preparação do manuscrito ilustrado da Légende de Saint Julien l’Hospitalier* de Flaubert e pela publicação do álbum XX Dessins (reeditado pelo CAM em 1983) com prefácio de Jérôme Doucet, álbum que mereceria uma apreciação muito favorável do célebre crítico Louis Vauxcelles.

Amadeo esforçar-se-á também por mostrar a sua pintura fora do circuito parisiense. Os contactos que estabelece nestes anos permitir-lhe-ão participar numa série de importantes exposições de grupo, entre as quais a célebre Exposição Internacional de Arte Moderna de 1913, também conhecida como Armory Show, que mostraria pela primeira vez a moderna arte europeia nos EUA (Nova Iorque, Chicago e Boston). Amadeo apresenta um total de oito obras, ao lado de Braque (1882-1963), Matisse, Duchamp (1887-1968), Gleizes (1881-1953), Herbin e Segonzac (1884-1974). Três das suas telas foram compradas pelo colecionador de Chicago, Arthur J. Eddy, o qual, ao publicar Cubist and Post-Impressionism (1914), cita e reproduz algumas das obras do pintor português, destacando-o pelo seu colorido. Outros importantes contactos vão levá-lo à Alemanha. Em Setembro de 1913, já depois de outra mudança de estúdio (que o leva a instalar-se em Montparnasse, na rua Ernest Cresson), estará representado no I Herbstsalon de Berlim, organizado pela Galeria Der Sturm. Amadeo já havia trabalhado com esta galeria berlinense em Novembro de 1912, data em que pela primeira vez expôs no seu espaço. É muito provável que em 1914 tenha participado em mostras em Colónia e Hamburgo e é certo que em Abril desse mesmo ano enviou 3 trabalhos para a Royal Academy de Londres, tendo todavia a exposição sido cancelada com o deflagrar da Guerra.

Também em 1914, antes de deixar Paris para passar o Verão em Portugal, como era habitual, Amadeo volta a mudar de atelier para a Vila Louvat, no nº 38 bis da rua Boulard. Não chegou todavia a utilizar este espaço. Após uma breve passagem por Barcelona em que visita o seu amigo, escultor, León Solá, e conhecerá Gaudí, Amadeo regressa a Manhufe, onde será surpreendido pelo deflagrar da Guerra que o impedirá de regressar a Paris.

A estadia forçada de Amadeo em Portugal não foi sinónimo de apatia criativa. Se ainda em Paris a sua obra explorara os domínios da abstração e, depois, enveredara por vias de compromisso expressionismo, o exílio em Portugal acabará por constituir-se como um momento de plena maturação da sua pintura, que se aproximará então de muitas das questões equacionadas no domínio da colagem.

Em 1915, o isolamento de Amadeo em Amarante foi quebrado pelo contacto com Sonia e Robert Delaunay, que a Guerra fizera também, inesperadamente, aportar a Vila do Conde. Por esta via, o círculo das suas relações recupera Eduardo Viana e alarga-se a Almada Negreiros. No seio deste núcleo de amizades geram-se diversos projetos, nomeadamente a criação de uma Corporation Nouvelle destinada a promover exposições internacionais itinerantes, ideia que nunca chegou a concretizar-se. Entretanto, através de Almada, Amadeo entra em contacto com o grupo dos “Futuristas” lisboetas, reunidos inicialmente em torno da revista Orpheu.

Na batalha pela agitação do meio artístico português, Amadeo teve um papel discreto mas relevante. No final de 1916, numa conhecida entrevista que deu ao jornal O Dia, parafraseia largamente os manifestos de Marinetti. Não que as propostas do Futurismo o cativassem enquanto solução formal. A postura radical e modernista com que o movimento era identificada em Portugal, convinha todavia a Amadeo como forma de intervenção e motor de rutura com as estruturas tradicionalistas dominantes, que o haviam atacado por ocasião das suas duas únicas exposições realizadas em vida em Portugal.

Em Dezembro de 1916, Amadeo promoveu, primeiro no Porto e depois em Lisboa, uma mostra em que reuniu sob o título de Abstraccionismo 114 pinturas. O desfasamento da cultura estética nacional impediu uma receção favorável das propostas pictóricas de Amadeo, ganhando os certames uma aura de escândalo (coroada no limite pela agressão física ao pintor). Neste contexto importa destacar o protagonismo de Almada Negreiros e Fernando Pessoa na sua defesa pública. Ambos o reconheceram como o pintor mais significativo do seu tempo. Mas não deixaram de ser manifestações excêntricas e isoladas.

Amadeo morreu em Espinho em Outubro de 1918, vítima da epidemia de pneumónica que deflagrou nesse ano. Tinha apenas 30 anos.

Joana Cunha Leal Maio de 2010

  • O manuscrito faz parte da coleção do CAM. Em 2006, por ocasião da exposição Amadeo de Souza-Cardoso – Diálogo de Vanguardas, o CAM e Assírio & Alvim editaram uma edição facsimilada, sob o título A Lenda de São Julião Hospitaleiro.
Date 9 January 2016, 17:18
Source/Photographer The little bright house - Landscape (c.1915-1916) - Amadeo de Souza-Cardoso (1887- 1918)
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