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Um Olhar português

A origem da nossa cultura


As caraterísticas físicas e psicológicas do povo português são atualmente muito semelhantes entre as várias regiões do país, no entanto nem sempre foi assim. Tal fato deveu-se ao contato com vários povos que se fixaram nessas terras, antes da origem da nação portuguesa. Situado no extremo sudoeste da Europa, não muito distante de África, esta região da Península Ibérica desde longa data se tornou uma referência de passagem e de encontro das mais variadas culturas e etnias. Os celtas e germanos tiveram grande influência no norte do país, enquanto que o sul teve mais contato com povos mediterrâneos e berberes. As invasões dos celtas, a partir do séc.VI tiveram enorme importãncia pois eram muito desenvolvidos na técnica do ferro e bem organizados a nivel militar e económico. Os lusitanos resultaram da fusão com este povo. Era tal o amor pela independência que os romanos tiveram enormes dificuldades para os dominar. Só ao fim de mais um século, com a vinda de Augusto à Península Ibérica foi possível anexar este território ao império romano. O legado destes nobres guerreiros tem assim grande importãncia, pois deles herdámos uma grande parte de nossa identidade, motivo suficiente para melhor conhecer acerca das suas origens.


    Lusitanos


Este povo era formado por homens hábeis em armar ataques surpresa ao inimigo. Seguiram a princípio a religião de Noé, mas depois entregaram-se à idolatria. O seu deus principal era Endovélico, deus da saúde, protetor da terra e da natureza, (estando localizado o santuário no cimo de um monte em S- Miguel da Mota, Alandroal).

Camões relatara nos Lusíadas, canto III, 21:

«Esta foi a Lusitânia, derivada de luso ou lisa, que de Baco antigo filhos foram, parece, ou companheiros e nella então os incolas primeiros» Reza a lenda que foi fundada em tempos imemoriais por Liso ou Lyso, filho de Bacho, limitada ao norte pelo Douro, a leste pelo Coa, a oeste pelo oceano, compreendendo as atuais províncias da Beira, Estremadura, parte setentrional do Alentejo, parte da Estremadura espanhola e província da Salamanca. Mais tarde os romanos incluíram nela o resto do Alentejo e Algarve.

As tribos da montanha bebiam  água e dormiam sobre a terra nua. Usavam cabelos compridos como as mulheres. Comiam de preferência carne de cabra, mas durante dois terços do ano viviam da bolota que torravam, esmigalhavam e moíam para fazer pão em covas de 20 a 40 cm de diâmetro e 6 a 12 cm de profundidade que se encontravam ao cimo dos barrocos e serviam de mó inferior. Já usavam a cerveja e em lugar de azeite empregavam manteiga, servindo-se para beber de vasos como os Celtas.

O vestuário era geralmente uma capa preta com que dormiam sobre a terra. Porém as mulheres gostavam de vestidos de cores. Praticavam torneios, tanto ginásticos como com armas e a cavalo e exercitavam-se no pugilato, no arremesso e no combate em bandos. Os castros, que primitivamente se chamavam duns foram importantes fortificações deste povo, e não dos romanos, e tinham no carvalho a árvore sagrada. Viriato ficara na história como um dos grandes heróis lusitanos, sendo reconhecido por honrar os acordos que fazia, e as suas campanhas militares chegaram a atingir o Norte de África, com a expedição de Cauceno. A morte de Viriato dera-se não pela força das armas romanas mas sim por traição de três homens de seu exército. Quinto Servílio Cipião (imperador Romano nos anos 139/140 aliciara esses três militares Aulaces, Ditalião e Minucius que, a troco de algumas moedas assassinaram o herói deste nosso povo lusitano, quando se encontrava dormindo no seu acampamento de Monte Vénus (S. Vicente), fronteiriço ao Tejo. No entanto, a traição que estes homens fizeram com o seu povo custara-lhes a vida, pois indo depois à presença de Scipião, para receberem o prémio da sua vileza o general romano respondera-lhes: «Nunquam romanis imperatorem a suis militibus interfici», o que traduzido significa: «Em Roma, nâo se recompensam os que assassinam o seu General». Mas o Império Romano acabara por dominar inteiramente e durante uns séculos reinara a paz romana por estas terras. Este povo conquistador influênciou muito nos destinos desse nosso povo, pois a nível da cultura, sangue, língua, costumes, leis, princípios, instituições, etc.. Quando os povos germânicos, aproveitando-se da fraqueza do velho império, começaram a invadi-lo em bandos sucessivos modificara-se a estrutura étnica e cultural das populações que correspondem ao Portugal atual. Logo no começo do séc. V os Suevos distribuiram terras entre si e fixaram-se na atual província de Entre Douro e Minho. Estes povos, saídos poucos anos antes da Baviera, na Alemanha, trouxeram com as mulheres e os filhos os usos, costumes e as técnicas agrárias das suas regiões de origem. A pouco e pouco fundiram-se também com as populações anteriores, formando um reino que tinha Braga por capital. No entanto, o reino dos Suevos não resistira aos ataques dos Visigodos, seus irmãos de sangue, pois estes eram mais evoluídos nas artes de guerra e da política. Os Visigodos acabaram por se assenhorar de toda a Península, durante o séc. VI, formando um grande reino cristão. Porém, logo nos princípios do séc.VII os Árabes, movidos por um vivo impulso religioso, lançaram-se à Península Ibérica e conquistaram-na com facilidade.

  Resistiu durante algum tempo um grupo de cristãos nas Astúrias, começando mais tarde  a combater  o inimigo para os expulsar destas terras, e formaram-se em seguida vários reinos cristãos, entre os quais Portugal. Foi uma guerra política e religiosa. Enquanto que reconquistavam  o solo da pátria, expulsavam o  inimigo da fé. Atrás do conquistador ia logo o lavrador e constroíam  o templo.

Em 1249 acabava a luta porque não havia mais terra a conquistar, tinha-se chegado ao extremo sul da faixa portuguesa. Nesta ocasião já se tinha repovoado grande parte dos territórios e, além de muitas capelas românicas, já se erguiam as Sés de Braga, Porto, Coimbra, Lisboa e Évora. Era chegado o momento de ir mais além. A ambição e bravura em enfrentar os mais temeresosos desafios orientou os portugueses para o imenso Atlântico, esse grande mar povoado de tempestades e de mistérios, e foi graças à bravura desses homens que se escreveu o melhor período da história de Portugal. Foram estas as raizes da lusitana Nação. Assim nascemos nós.

Texto escrito por Augusto Lopes (escritor), na revista Luzitânia Contact

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